#Novidade | Palavra Ao Inanimado: A "Revolução" De Osmar Beneson
- Serigrafias&Afins

- há 1 dia
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Nas obras de Osmar Beneson assistimos à encenação de uma nova cosmogonia. A Serigrafias & Afins partilha aqui a opinião do conceituado Prof. Sérgio Romanelli (UFSC–CNPq).

Não se trata mais, ou simplesmente, de formas, mas de entidades inusitadas; os objetos do real são antropomorfizados, as coisas se rebelam à estaticidade a que o homem, ou o Artífice, as condenou.
Assim vemos suas dimensões explodirem para além dos limites usuais: cadeiras pensantes de dois metros, para que nenhum humano possa sentar-se nelas e usá-las, finalmente livres e impondo sua forma — aquela que elas escolheram.
Este é o traço mais surpreendente, ao meu ver, da obra de Beneson: uma nova ontologia lúdico-revolucionária, não só no aspeto projetual, mas também no cromático; nada ocupa, nessa nova ordem das coisas, o lugar que lhe foi dado — nem dimensão, nem cor, nem papel fixo.
Toda a obra de Beneson, sua poética de criação, lembra-me A revolução dos bichos, de George Orwell — aquela revolução incrível e cruel contra os humanos. Aqui são os objetos que recusam a desumanidade que o homem lhes atribuiu e buscam impor sua identidade, mas não através da destruição, do conflito ou da duplicidade, e sim por meio da convivência, do encontro, do ponto em comum.
De fato, ao observar suas obras, o espectador verá árvores e cadeiras que convivem no mesmo espaço, mas tornando-se cada uma parte da outra, as árvores parecendo mãos que se abrem ao outro, e cadeiras, mesas, luminárias — objetos corriqueiros de nossas vidas — compartilham nosso diálogo.
Não tendo o dom da palavra, aproximam-se de nossa aparência num processo de identificação.
A essência da arte é essa, e Beneson a alcança: o homem-artista cria algo maior do que si, libertando-se dos limites estreitos de sua mente e de suas conceções.
Dá evasão às suas perceções contidas e não expressáveis somente por palavras escritas ou faladas.
A arte de Beneson nos revela, ao mesmo tempo, o limite e o poder extraordinário de nosso pensamento.
Do ponto de vista estético, o que chama a atenção do espectador é essa peculiar síntese — totalmente pessoal — entre o cartum, Miró e Botero.
Na minha visão, a obra de Beneson se configura como totalmente latino-americana, tanto no aspeto antropofágico de ingestão e recriação do Todo em uma nova realidade, quanto nas referências cromáticas e de estilo aos mestres da arte espanhola e sul-americana, e, sobretudo, no espírito, na filosofia de vida tipicamente brasileira que humaniza e enxerga a alma até no inanimado.
Prof. Sérgio Romanelli (UFSC–CNPq)

















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